EXAME E PONTUAÇÃO
– E agora? – disse Narizinho. – Dona Sintaxe nos mandou brincar – mas brincar de quê, nesta cidade de
palavras? Uma ideia!.. Vamos ver a Pontuação! Onde fica a Pontuação, Quindim?
– Aqui perto, num bazar. Eu sei o caminho – respondeu o paquiderme.
No tal bazar encontraram os Sinais de Pontuação, arrumados em caixinhas de madeira, com rótulos na tampa.
Emília abriu uma e viu só Vírgulas dentro.
– Olhem que galanteza! – exclamou. – Vírgulas, vírgulas e mais vírgulas! Parecem bacilos do cólera-morbo, que
Dona Benta diz serem virgulazinhas vivas.
Emília despejou um monte de Vírgulas na palma da mão e mostrou-as ao rinoceronte.
– Essas vírgulas servem para separar as Orações Independentes das Subordinadas – explicou ele – e para mais
uma porção de coisas. Servem sempre para indicar uma pausa na frase. A função delas é separar de leve.
Emília soprou um punhadinho de Vírgulas e abriu outra caixa. Era a do Ponto e Vírgula.
– E estes, Quindim, estes casaizinhos de Vírgula e Ponto?
– Esses também servem para separar. Mas separam com um pouco mais de energia do que a Vírgula sozinha.
Emília despejou no bolso de Pedrinho todo o conteúdo da caixa. – E estes aqui? – perguntou em seguida, abrindo
a caixinha dos Dois Pontos.
– Esses servem para separar, porém com maior energia ainda do que o Ponto e Vírgula.
Metade daqueles Dois Pontos foram para o bolso do menino. Emília abriu uma nova caixa.
– Oh, estes eu sei para que servem! – exclamou ela, vendo que eram Pontos Finais. – Estes separam de uma
vez – cortam. Assim que aparece um deles na frase, a gente já sabe que a frase acabou. Finou-se...
Em seguida abriu a caixa dos Pontos de Interrogação.
– Ganchinhos! – exclamou. – Conheço-os muito bem. Servem para fazer perguntas. São mexeriqueiros e
curiosíssimos. Querem saber tudo quanto há. Vou levá-los de presente para Tia Nastácia.
Depois chegou a vez dos Pontos de Exclamação.
– Viva! – gritou Emília. – Estão cá os companheiros das Senhoras Interjeições. Vivem de olhos arregalados, a
espantar-se e a espantar os outros. Oh! Ah!!! Ih!!!!!
A caixinha imediata era a das Reticências.
– Servem pra indicar que a frase foi interrompida em certo ponto – explicou Quindim.
– Não gosto de Reticências – declarou Emília. – Não gosto de interrupções. Quero todas as coisas inteirinhas –
pão, pão, queijo, queijo – ali na batata! – E, despejando no assoalho todas aquelas Reticências, sapateou em cima.
Depois abriu outra caixa e exclamou com cara alegre: – Oh, estes são engraçadinhos! Parecem meias-luas...
Quindim explicou que se tratava dos Parênteses, que servem para encaixar numa frase alguma palavra, ou
mesmo outra frase explicativa, que a gente lê variando o tom da voz.
– E aqui, estes pauzinhos? – perguntou Emília abrindo a última caixa.
– São os Travessões, que servem, no começo das frases de diálogo para mostrar que é uma pessoa que vai
falar. Também servem dentro de uma frase para pôr em maior destaque uma palavra ou uma Oração.
– Que graça! – exclamou Emília. – Chamarem Travessão a umas travessinhas de mosquito deste tamanhinho! Os
gramáticos não possuem o “senso da medida”.
Quindim olhou-a com o rabo dos olhos. Estava ficando sabida demais...
Adaptado. LOBATO, Monteiro. Emília no País da Gramática. São Paulo, Globo, 2008.
Glossário:
bacilo – bactéria em forma de bastonete;
cólera-morbo – doença infecciosa aguda, contagiosa, em geral epidêmica, caracterizada por diarreia abundante, prostração e cãibras;
paquiderme – constitui uma ordem de mamíferos dotados de pele grossa, resistente.
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