Coronavírus: Ministério da Saúde confirma
transmissão comunitária no país; há 98 casos confirmados
13 março 2020
*Matéria atualizada às 23h15 de 13/03/20
O Ministério da Saúde confirmou nesta sexta-feira
(13/03) a transmissão comunitária do novo coronavírus no
Brasil.
Esse tipo de transmissão ocorre quando há casos em
que não é mais possível identificar a cadeia de infecção. Isso significa que o
vírus está circulando livremente na população.
Foram confirmados quatro destes casos, dois na
cidade de São Paulo e dois na cidade do Rio de Janeiro, capitais dos dois
Estados mais afetados pela atual pandemia até agora.
Até então, só havia registros de casos importados
ou de transmissão local, em que é possível identificar a origem da infecção.
Nos casos importados, os pacientes se infectaram em
viagens ao exterior. Nos casos de transmissão local, os pacientes se infectaram
pelo contato próximo com casos suspeitos ou confirmados do novo coronavírus.
Os dados do ministério apontam que foram
registrados no Brasil, até o momento, 98 casos do Sars-Cov-2, como é chamado
oficialmente este novo vírus. Eles estão distribuídos em 12 Estados — São Paulo
(56), Rio de Janeiro (16), Paraná (6), Rio Grande do Sul (4), Goiás (3), Bahia
(2), Minas Gerais (2), Pernambuco (2), Santa Catarina (2), Alagoas (1),
Espírito Santo (1) e Rio Grande do Norte (1) — e no Distrito Federal (2).
Há ainda 1.485 casos suspeitos no país, e 1.344
foram descartados. Nenhuma morte foi registrada até agora.
Evolução da epidemia no Brasil
Respostas do governo
Na noite de sexta-feira (13), foi publicada em
edição extra do Diário Oficial uma Medida Provisória (MP) da presidência que
abre crédito extraordinário de cerca de R$ 5 bilhões em favor dos ministérios
da Saúde e Educação para o enfrentamento ao coronavírus. Sendo uma MP, a
matéria entra em vigor no momento da publicação, mas precisa ser aprovada pelo
Congresso em até 120 dias — caso contrário, perde a validade.
Mais cedo, em coletiva de imprensa, o Ministério da
Saúde anunciou
uma série de recomendações gerais para municípios e Estados, e também
propostas direcionadas para as cidades onde há casos de transmissão local e
comunitária. A pasta afirmou que, sem a adoção destas medidas, o número de
casos pode dobrar a cada três dias.
Entre as propostas para lugares com transmissão
local e comunitária, está a redução do contatos social de idosos e doentes
crônicos; cancelamento de eventos em locais fechados com mais de cem pessoas ou
realização destes sem público; antecipação das férias nas instituições de
ensino; e quarentena se a ocupação dos leitos de UTI destinados ao tratamento
da covid-19 atingir 80%.
"Nos países que estão enfrentando este
problema, a adoção destas medidas não farmacológicas reduziu a velocidade de
transmissão e retardou o pico da epidemia, dando melhores condições para que os
serviços de saúde impactados pelo aumento da demanda possam se recuperar",
disse Oliveira.
O secretário destacou ainda que os gestores de
saúde locais devem avaliar se e como adotarão estas medidas, de acordo com a
evolução do número de casos em suas cidades e Estados.
RJ e SP anunciam medidas
Após o anúncio do ministério, os governos dos
Estados de São Paulo e do Rio anunciaram medidas pra atender as recomendações
do ministério.
O governo paulista anunciou que recomenda o
cancelamento de eventos de lazer, culturais e esportivos com mais de 500
participantes.
Também recomendou a suspensão imediata das aulas em
universidades públicas e uma suspensão gradual nas escolas das redes públicas
estadual e municipal da cidade de São Paulo, a partir de 16 de março.
As escolas continuarão abertas por uma semana após
esta data, e, no dia 23 de março, as aulas serão suspensas. A mesma
recomendação foi feita para a rede privada.
A data foi determinada a fim de dar tempo
suficiente para que as famílias se organizem para o período em que as escolas
ficarão fechadas. O governo pediu que as crianças não sejam deixadas com os
avós, porque idosos têm mais chances de desenvolver quadros graves quando são
infectados pelo novo coronavírus.
O governo paulista afirmou que ainda não há uma
previsão de quando as atividades de ensino serão retomadas e que isso será
avaliado constantemente, de acordo com a evolução da epidemia.
O governo fluminense anunciou a suspensão por 15
dias da aulas nas redes pública e privada, em escolas e universidades, e de
eventos esportivos, shows, feiras, comícios, passeatas, entre outros, assim
como o fechamento de teatros, casas de show e cinemas.
Também foram suspensas as visitas a pacientes
internados por causa do novo coronavírus em hospitais públicos e privados e a
detentos de unidades prisionais, assim como o transporte de presos para a
realização de audiências.
Ainda haverá uma redução do atendimento ao público
nas repartições públicas do Estado.
Pandemia
Na quarta-feira, a Organização Mundial de Saúde
(OMS) declarou uma pandemia de Covid-19, a doença causada pelo novo
coronavírus, que já chegou a 118 países e a todos os continentes, exceto a
Antártida, e infectou mais de 125 mil pessoas, levando cerca de 4,6 mil delas à
morte.
"Os números de casos, de mortes e o número de
países afetados deve ser ainda maior nos próximos dias e nas próximas
semanas", diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, ao anunciar a
declaração de pandemia.
Ghebreyesus afirmou ainda que a OMS está "profundamente
preocupada" com o níveis "alarmantes" de disseminação da doença
e de "inação", mas que o fato de o surto global ter evoluído para uma
pandemia não significa que seja impossível reverter a situação atual.
A OMS estima que 3,4% dos pacientes morrem por
causa da Covid-19, a doença causada por este vírus. Mas especialistas estimam
que essa taxa de letalidade gire em torno de 2% ou menos.
O Ministério da Saúde informou que estudos apontam
que 90% dos casos do novo coronavírus apresentam sintomas leves e podem ser
tratados nos postos de saúde ou em casa.
Mas, entre aqueles que são hospitalizados, o
tempo de internação gira em torno de três semanas, o que gera um impacto sobre
os sistemas de saúde, de acordo com a pasta, já que os leitos de unidades de
tratamento intensivo (UTI) ficam ocupados por um longo tempo. Por isso, o
governo vai buscar ampliar o número de leitos de UTI disponíveis
Os casos
O primeiro registro do coronavírus no Brasil foi em
24 de fevereiro. Um empresário de 61 anos, que mora em São Paulo (SP), foi
infectado após retornar de uma viagem, entre 9 e 21 de fevereiro, à região
italiana da Lombardia, a mais afetada do país europeu que tem mais casos fora
da China.
De acordo com o Ministério da Saúde, o empresário
de 61 anos tinha sintomas como febre, tosse seca, dor de garganta e coriza.
Parentes dele passaram a ser monitorados. Dias depois, exames apontaram que uma
pessoa ligada ao paciente também estava com o novo coronavírus e transmitiu o
vírus para uma terceira pessoa. Todos permaneceram em quarentena em suas casas,
pelo período de, ao menos, 14 dias.
Após o primeiro caso, outros diversos registros
passaram a ser feitos no Brasil. Muitos vieram de países com inúmeros casos do
novo coronavírus, mas depois foram registrados casos de transmissão local e,
por fim, comunitária.
Nesta sexta-feira (13/3), foi anunciado que o
empresário de 61 anos está curado da doença provocada pelo novo coronavírus.
Cuidados
A principal recomendação de profissionais de saúde
que acompanham o surto é simples, porém bastante eficiente: lavar as mãos com
sabão após usar o banheiro, sempre que chegar em casa ou antes de manipular
alimentos.
O ideal é esfregar as mãos por algo entre 15 e 20
segundos para garantir que os vírus e bactérias serão eliminados.
Se estiver em um ambiente público, por exemplo, ou
com grande aglomeração, não toque a boca, o nariz ou olhos sem antes ter antes
lavado as mãos ou pelo limpá-las com álcool. O vírus é transmitido por via
aérea, mas também pelo contato.
Também é importante manter o ambiente limpo,
higienizando com soluções desinfetantes as superfícies como, por exemplo,
móveis e telefones celulares.
Para limpar o celular, pode-se usar uma solução com
mais ou menos metade de água e metade de álcool, além de um pano limpo.
Coronavírus: o mapa que mostra o alcance mundial da
doença
12 março 2020
O novo coronavírus, que surgiu em dezembro na
província de Hubei, no centro da China, já chegou a mais de cem países e
territórios em cinco continentes.
Batizada de covid-19, a doença que o vírus provoca
é uma infecção respiratória que começa com sintomas como febre e tosse seca e,
ao fim de uma semana, pode provocar falta de ar. Cerca de 80% dos casos são
leves, e 5%, graves.
São mais de 120 mil infectados e de 4.500 mortos ao
redor do mundo. No Brasil, já foram confirmados 52 casos da doença.
Mapa da disseminação do coronavírus, por 14 de
março de 2020
A apresentação usa dados periódicos da Universidade
John Hopkins e pode não refletir as informações mais atualizadas de cada país.
Total de casos confirmados
|
Número de mortes
|
145.405
|
5.432
|
Casos |
Mortes
|
|
China
|
80.973
|
3.193
|
Itália
|
17.660
|
1.266
|
Irã
|
11.364
|
514
|
Coreia do Sul
|
8.086
|
72
|
Espanha
|
5.232
|
133
|
Alemanha
|
3.675
|
8
|
França
|
3.664
|
79
|
Estados Unidos
|
2.174
|
47
|
Suíça
|
1.139
|
11
|
Noruega
|
996
|
1
|
Suécia
|
814
|
1
|
Holanda
|
804
|
10
|
Dinamarca
|
801
|
|
Reino Unido
|
798
|
11
|
Japão
|
725
|
21
|
Cruzeiro Diamond Princess
|
696
|
7
|
Bélgica
|
559
|
3
|
Áustria
|
504
|
1
|
Catar
|
320
|
|
Cingapura
|
200
|
|
Austrália
|
200
|
3
|
Malásia
|
197
|
|
Canadá
|
191
|
1
|
Grécia
|
190
|
1
|
Bahrein
|
189
|
|
Israel
|
161
|
|
Finlândia
|
155
|
|
Brasil
|
151
|
|
Eslovênia
|
141
|
|
República Tcheca
|
141
|
|
Islândia
|
134
|
|
Portugal
|
112
|
|
Iraque
|
101
|
9
|
Irlanda
|
90
|
1
|
Romênia
|
89
|
|
Arábia Saudita
|
86
|
|
Emirados Árabes Unidos
|
85
|
|
Índia
|
82
|
2
|
San Marino
|
80
|
5
|
Egito
|
80
|
2
|
Kuwait
|
80
|
|
Estônia
|
79
|
|
Líbano
|
77
|
3
|
Tailândia
|
75
|
1
|
Indonésia
|
69
|
4
|
Polônia
|
68
|
2
|
Filipinas
|
64
|
6
|
Taiwan
|
53
|
1
|
Vietnã
|
47
|
|
Rússia
|
45
|
|
Chile
|
43
|
|
Brunei
|
37
|
|
Cisjordânia
|
35
|
|
Sérvia
|
35
|
|
Luxemburgo
|
34
|
|
Albânia
|
33
|
1
|
Eslováquia
|
32
|
|
Croácia
|
32
|
|
Argentina
|
31
|
2
|
Peru
|
28
|
|
Paquistão
|
28
|
|
Belarus
|
27
|
|
Panamá
|
27
|
1
|
Argélia
|
26
|
2
|
Geórgia
|
25
|
|
África do Sul
|
24
|
|
Bulgária
|
23
|
1
|
Costa Rica
|
23
|
|
Omã
|
19
|
|
Hungria
|
19
|
|
Equador
|
17
|
1
|
Letônia
|
17
|
|
Tunísia
|
16
|
|
Azerbaijão
|
15
|
1
|
Macedônia do Norte
|
14
|
|
Chipre
|
14
|
|
Bósnia-Herzegóvina
|
13
|
|
Colômbia
|
13
|
|
Malta
|
12
|
|
México
|
12
|
|
Senegal
|
10
|
|
Afeganistão
|
10
|
|
Maldivas
|
9
|
|
Jamaica
|
8
|
|
Armênia
|
8
|
|
Marrocos
|
7
|
1
|
Sri Lanka
|
6
|
|
Moldávia
|
6
|
|
Paraguai
|
6
|
|
Lituânia
|
6
|
|
Guiana Francesa
|
5
|
|
República Dominicana
|
5
|
|
Camboja
|
5
|
|
Turquia
|
5
|
|
Ilha Reunião
|
5
|
|
Nova Zelândia
|
5
|
|
Ilhas Faroe
|
5
|
|
Cuba
|
4
|
|
Cazaquistão
|
4
|
|
Uruguai
|
4
|
|
Martinica
|
3
|
|
Bolívia
|
3
|
|
Bangladesh
|
3
|
|
Ucrânia
|
3
|
1
|
Camarões
|
2
|
|
República Democrática do Congo
|
2
|
|
Gibraltar
|
2
|
|
Honduras
|
2
|
|
Nigéria
|
2
|
|
Mônaco
|
2
|
|
São Bartolomeu
|
2
|
|
Ilha de São Martinho (parte francesa)
|
2
|
|
Burkina Fasso
|
2
|
|
Aruba
|
2
|
|
Porto Rico
|
2
|
|
Gana
|
2
|
|
Jersey
|
2
|
|
Venezuela
|
2
|
|
Mongólia
|
1
|
|
Sudão
|
1
|
1
|
Guiné
|
1
|
|
Gabão
|
1
|
|
Guernsey
|
1
|
|
Quênia
|
1
|
|
Guiana
|
1
|
1
|
Liechtenstein
|
1
|
|
Etiópia
|
1
|
|
Togo
|
1
|
|
Polinésia Francesa
|
1
|
|
Trinidad e Tobago
|
1
|
|
Guadalupe
|
1
|
|
Jordânia
|
1
|
|
Antigua e Barbuda
|
1
|
|
Guatemala
|
1
|
|
Nepal
|
1
|
|
Ilhas Cayman
|
1
|
|
Vaticano
|
1
|
|
Costa do Marfim
|
1
|
|
Andorra
|
1
|
|
Butão
|
1
|
Fonte: Universidade John Hopkins (Baltimore, EUA),
autoridades locais
Última atualização em 14 de março de 2020 11:00
GMT.
Atualmente, o vírus está se disseminando mais
rapidamente fora do país onde surgiram os primeiros casos.
O mapa acima, que será atualizado duas vezes por
dia, traz informações sobre o número de infectados e mortos separados por país.
As respostas abaixo se baseiam em dados que vêm de
infectologistas e virologistas entrevistados pela reportagem e de fontes
oficiais como a Organização Mundial da Saúde, o Ministério da Saúde brasileiro,
o Serviço de Saúde do Reino Unido e os centros de Controle e Prevenção de
Doenças dos Estados Unidos e da China.
1. Quais são os sintomas da covid-19, doença
causada pelo novo coronavírus?
A maioria das pessoas que desenvolve sintomas
começam a aparentá-los ao redor do quinto dia, segundo os dados disponíveis até
agora.
Os principais são: febre, tosse e dificuldade para
respirar. Em um número menor de casos há espirro e coriza. Em geral, após uma
semana, a doença causa dificuldade para respirar e alguns pacientes necessitam
de tratamento hospitalar.
Mas nem sempre todos esses sintomas aparecem.
Pessoas que não desenvolveram sintomas até o dia 12
têm pouca probabilidade de desenvolvê-los, mas ainda podem carregar a infecção.
2. Estou com sintomas parecidos. Devo ir ao
hospital?
Por ora, no Brasil, um caso tem que se encaixar em
uma combinação de critérios para ser considerado suspeito. Primeiro, a pessoa
precisa ter viajado para alguma área em que o vírus esteja circulando, como a
China ou a Itália, ou ter tido contato próximo com alguém que tenha viajado
para lá.
Contato próximo significa ter contato direto ou
estar a aproximadamente dois metros de um paciente com suspeita de novo
coronavírus dentro do mesmo ambiente, por um período prolongado.
Depois, a pessoa que suspeita estar doente precisa
ter febre e/ou precisa ter pelo menos um sinal ou sintoma respiratório, como
tosse ou dificuldade para respirar.
Caso se encaixe nesses critérios, especialistas e
autoridades brasileiros afirmam que essa pessoa deve ir a uma unidade de saúde,
preferencialmente procurar um lugar em que seja possível fazer diagnóstico de
coronavírus — nesse caso, hospitais, em vez de unidades básicas de saúde.
O Ministério da Saúde informou que estudos apontam
que 90% dos casos do novo coronavírus apresentam sintomas leves e podem ser
tratados nos postos de saúde ou em casa.
3. Quão letal é o novo coronavírus?
A taxa de letalidade da doença provocada pelo novo
coronavírus é estimada em 2,3%. Ou seja, a cada 100 pessoas que contraem o
vírus, em média, pouco mais de duas morrem.
É muito quando comparada à taxa de mortalidade da
gripe comum, de menos de 0,1%, mas pouco quando comparada a quantos morreram,
por exemplo, com a Sars, doença ligada a outro coronavírus que surgiu na China
em 2002 e registrou taxa de mortalidade de cerca de 10%.
Mas esses dados estatísticos não são precisos
porque milhares de pacientes em tratamento ainda podem morrer, o que elevaria a
taxa de mortalidade. Por outro lado, também não está claro quantos casos leves
podem não ter sido reportados, então a taxa de mortalidade também pode ser
menor.
4. Quantas pessoas sobrevivem ao coronavírus?
No surto atual, com base em dados de 44 mil
pacientes infectados pelo novo coronavírus, a Organização Mundial da Saúde
informa que:
81% desenvolvem sintomas leves;
14% desenvolvem sintomas graves;
5% ficam em estado crítico;
não foram registradas mortes de crianças de até 9
anos.
O infectologista Luis Fernando Aranha Camargo, do
Hospital Israelita Albert Einstein, ressalta, no entanto, que não se sabe ainda
a respeito da sobrevida desses pacientes, o que vai acontecer a longo prazo.
Por isso, não é possível ainda fazer afirmações
categóricas sobre os pacientes recuperados.
5. O coronavírus tem cura?
Não existe vacina ou tratamento contra o vírus até
agora. Quando o ciclo do vírus termina — ou seja, você adquire a doença, mas,
depois de um tempo, os sintomas desaparecem completamente — você estaria
teoricamente curado. É a chamada cura espontânea.
Mas não se sabe, por exemplo, se nosso corpo
adquire imunidade ao vírus após o primeiro contágio. China e Japão relataram
casos de pacientes que pareciam ter se curado, mas voltaram a manifestar a
doença — não se sabe, porém, se foram infectados uma segunda vez ou apenas
tiveram uma recaída da primeira infecção.
6. Uma pessoa pode ser infectada pelo novo
coronavírus duas vezes?
Há muitas coisas que os cientistas não sabem sobre
esse novo vírus. E isso inclui a possibilidade de uma pessoa ser infectada duas
vezes ou mais. Até então, acreditava-se que isso não fosse possível, tendo em
vista o que se sabe sobre outras infecções virais respiratórias.
Mas informações divulgadas por autoridades da China
e do Japão lançaram dúvidas sobre isso: algumas pessoas que já haviam se
recuperado da doença foram diagnosticadas novamente com o vírus. Mas ainda é
muito cedo para afirmar se isso é possível ou houve, por exemplo, alguma falha
de diagnóstico.
7. A transmissão é rápida? Passa pela tosse?
Centenas de novos casos estão sendo registrados
todos os dias. No entanto, os analistas acreditam que a real dimensão do surto
pode ser 10 vezes maior que os números oficiais indicam.
Estima-se que no surto atual cada pessoa infectada
passou a doença para menos de três pessoas, em média.
Em geral, todos os vírus que afetam o trato respiratório
são transmitidos pela via aérea ou pelo contato das mãos com a boca ou com os
olhos — respirando no mesmo ambiente, tocando algo que uma pessoa infectada
tocou, por exemplo.
Até agora, a grande maioria dos casos do novo
coronavírus registrados foram transmitidos entre pessoas com contato próximo,
como familiares ou amigos e profissionais de saúde.
A definição de contato próximo do Ministério da
Saúde brasileiro é "estar a dois metros de um paciente com suspeita de
caso por 2019-nCoV, dentro da mesma sala ou área de atendimento (ou aeronaves
ou outros meios de transporte), por um período prolongado, sem uso de
equipamento de proteção individual. Ou cuidar, morar, visitar ou compartilhar
uma área ou sala de espera de assistência médica".
8. Se a taxa de mortalidade é relativamente baixa,
por que tanta preocupação?
Em primeiro lugar, o fato de estarmos diante de um
novo vírus sempre gera uma preocupação maior porque não se sabe exatamente como
ele se comporta, o quão facilmente sofre mutações.
Não é possível afirmar com certeza, por exemplo, se
uma pessoa que foi infectada, mas ainda não apresenta sintomas, pode infectar
outras.
O contágio assintomático durante o período de
incubação (que varia entre 1 e 14 dias) é uma possibilidade bastante grande,
segundo as autoridades de saúde, mas isso não está 100% comprovado.
Se confirmado, no entanto, significaria que o vírus
tem uma capacidade de se alastrar maior do que a de outros agentes patogênicos,
como o ebola ou o sarampo, em que o contágio só acontece quando há sintomas.
Além disso, não há imunidade na população para um
novo vírus que surge de repente e se espalha rapidamente. Isso faz com que essa
taxa relativamente pequena de mortos acabe representando um número absoluto
alto de fatalidades.
Nesse sentido, preocupa a possibilidade de chegada
do vírus a países com sistemas de saúde pública mais frágeis, com menos
recursos, com menor capacidade para lidar com um volume alto de doentes de uma
vez só.
Aliás, a OMS destacou recentemente que o Brasil tem
um histórico de lidar com surtos e epidemias, com o caso recente da zika, que
pode ajudar na luta contra a disseminação da doença.
Medidas como quarentenas e suspensão das aulas
assustam e causam transtornos, mas especialistas apontam que esse tipo de
medida é eficaz para conter o surto, como tem acontecido na China.
"Essas ações podem ser disruptivas e ter
impacto econômico e social em indivíduos e comunidades. No entanto, estudos
mostram que a adoção em etapas dessas intervenções podem reduzir a transmissão
em comunidades", explica o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos
EUA.
9. A Organização Mundial da Saúde declarou que o
vírus é um pandemia. O que isso significa?
O termo é usado para descrever uma situação em que
uma doença infecciosa ameaça muitas pessoas ao redor do mundo simultaneamente.
Declarar uma pandemia significa dizer que os
esforços para conter a expansão mundial do vírus falharam e que a epidemia está
fora de controle.
Uma das pandemias mais graves já enfrentadas
ocorreu entre 1918 e 1920. Estima-se que 50 milhões de pessoas tenham morrido
na pandemia da gripe espanhola, mais do que os 17 milhões de vítimas, entre
civis e militares, da 1ª Guerra Mundial.
Pandemias são mais prováveis com novos vírus. Como
não temos defesas naturais contra eles ou medicamentos e vacinas para nos
proteger, eles conseguem infectar muitas pessoas e se espalhar facilmente e de
forma sustentada.
Na prática, ao afirmar que estamos diante de uma
pandemia, a OMS sinaliza que é hora de passar para a fase de mitigação, ou
seja, deixar de se concentrar na detecção de novos casos e adotar medidas para
tratar os pacientes em estado mais grave e evitar mortes.
10. É verdade que o vírus não sobrevive no calor?
Essa foi uma dúvida que surgiu depois que o
ministro da Saúde brasileiro afirmou que não sabemos ainda qual vai ser o
comportamento do vírus aqui porque estamos no verão.
De acordo com o Serviço Nacional de Saúde do Reino
Unido, o NHS, de forma geral as temperaturas mais baixas aumentam o tempo de
sobrevivência do vírus da gripe no ar. No calor, portanto, a sobrevida deles
fora do corpo é menor.
Além disso, há ainda o fato de que no frio as
pessoas tendem a ficar mais em ambientes fechados, o que favorece a propagação
de doenças respiratórias.
Camargo, infectologista do Einstein, ressalta,
entretanto, que, como nós não conhecemos totalmente as características do
vírus, não conseguimos inferir como vai ser o comportamento dele no Brasil.
O país já teve surto de influenza em meses de
outono, ele lembra, uma estação relativamente quente. Sem falar que o Brasil
está passando por um verão bem chuvoso, mais do que a média, que acabou
derrubando as temperaturas em alguns dias.
Por outro lado, é importante lembrar que uma
variedade diferente de coronavírus — causador da Síndrome Respiratória do
Oriente Médio (Mers), por exemplo — surgiu no verão, na Arábia Saudita, então
não há garantias de que o clima mais quente interrompa o surto.
11. Tomar chá quente mata o vírus? Evitar boca seca
mata o vírus?
Essas dicas vêm sendo compartilhadas nas redes
sociais e são falsas, segundo Camargo, infectologista do Einstein. Ele disse
que chegou a receber pelo WhatsApp a segunda, que dizia que médicos japoneses
tinham recomendado às pessoas que bebessem água porque o vírus iria para o
estômago e lá seria destruído pelos ácidos estomacais.
Segundo o Ministério da Saúde, até o momento não há
nenhum medicamento, substância, infusão, óleo essencial, vitamina, alimento
específico ou vacina que possa prevenir ou tratar a infecção pelo novo
coronavírus. Isso vale para todas as fake news envolvendo chá quente,
vitamina C, vitamina D e bebida alcoólica, entre outras.
Camargo ainda acrescenta: a informação mais
confiável nesse sentido é aquela publicada em periódicos médicos, que tenha
sido comprovada com pesquisa. Sites como o The Lancet e o Journal of
the American Medical Association têm reunido boa parte do que tem
saído em termos de pesquisas médicas sobre o coronavírus.
12. O que funciona, então, para combater o vírus?
Lavar as mãos com frequência é básico e é o que vem
sendo apontado como mais eficaz;
Não botar a mão na boca, no nariz ou nos olhos
também evita levar o vírus para as mucosas do corpo, por onde ele também entra.
Entra também por via aérea, ou seja, alguém tosse, espirra e você respira
aquilo;
É fundamental usar lenço na hora que tossir ou
espirrar e jogar aquele papel fora na hora;
Não há evidências científicas de que as máscaras
cirúrgicas sejam eficazes;
Manter hábitos saudáveis para fortalecer a
imunidade. Ou seja, dormir a quantidade de horas certas para a sua idade,
alimentar-se bem, manter-se hidratado, fazer exercícios físicos regularmente e
tentar reduzir o estresse;
E, claro, se você tem uma gripe, evite o contato
com outras pessoas, mas principalmente com idosos. Isso pode abrir caminho, por
exemplo, para uma infecção cruzada de dois vírus da gripe diferentes que,
claro, vão sobrecarregar o sistema imunológico da pessoa.
13. Já que tocamos nesse assunto, por que idosos
são principais vítimas fatais?
De fato, a taxa de mortalidade do novo coronavírus
aumenta a partir dos 60 anos e chega a 15% para quem tem
mais de 80 anos. Por dois motivos: a imunidade a partir dos 60 anos perde
força, o que deixa a pessoa mais suscetível a algumas doenças e também com
capacidade comprometida de lutar contra infecções.
Ocorre também que as células do sistema imunológico
que deveriam apenas matar as células infectadas acabam atingindo também aquelas
que estão sadias.
Além disso, existem as chamadas comorbidades. A
chance de alguém com mais de 60 anos ter outros problemas como diabetes,
pressão alta, problemas cardíacos, entre outros, é maior, o que gera um peso
adicional no corpo na hora de lutar contra um novo vírus.
14. O que explica a baixa incidência do coronavírus
em crianças?
A resposta não é simples e há pelo menos três hipóteses,
mas nenhuma delas ainda foi comprovada:
as crianças teriam um sistema imunológico mais
forte, levando a menos complicações e, consequentemente, menos diagnósticos oficiais;
o início do surto coincidiu com o período de
recesso escolar, expondo as crianças a menor risco de contágio, e os adultos
tendem a agir mais como cuidadores nessas situações, mandando a criança para
casa de um parente caso alguém esteja doente, por exemplo;
há também a possibilidade de o coronavírus ser mais
um do rol de vírus com sintomas mais brandos em crianças, como o da catapora, o
que também gera menor detecção formal pelo sistema de saúde.
15. Estou grávida, devo me preocupar?
Especialistas e autoridades afirmam não haver
motivo para acreditar que mulheres grávidas ou os bebês sejam mais suscetíveis
aos efeitos do novo coronavírus do que qualquer outra pessoa.
Também não há qualquer indício de que o vírus possa
ser contraído no útero.
16. Ter asma é um fator de risco? O coronavírus
pode causar um ataque?
Infecções respiratórias, como o novo coronavírus,
podem servir de gatilho para sintomas de asma.
A entidade Asthma UK recomenda àqueles que
estiverem preocupados com o vírus que sigam uma série de passos para cuidar da
saúde.
17. Como detectar se a pessoa está doente?
Em geral, numa doença como esta, amostras de
secreção respiratória são levadas ao laboratório. Ali, técnicas de detecção de
material genético viral podem identificar a presença do agente infeccioso.
Mas durante o surto atual a China ampliou sua
metodologia e passou a considerar um caso confirmado também por meio de
diagnóstico clínico associado a um exame de imagem do pulmão.
A mudança, segundo as autoridades chinesas, visava
a dar mais celeridade ao tratamento e ao isolamento dos pacientes infectados
com a doença, além de ampliar o escopo de quem precisa ser monitorado por
eventuais sintomas.
Direito de imagemBSIPImage captionDiagnóstico do
novo coronavírus inclui análise de laboratório, avaliação clínica e exame de
imagem
Parte dos especialistas também questiona a precisão
dos exames de laboratório, depois que surgiram relatos em diversos países de
pessoas que receberam até seis resultados negativos para a doença até que
finalmente a análise apontou a presença do novo coronavírus. Mas, no estágio
atual do surto, é impossível dizer exatamente o que está acontecendo.
18. Por que alguns pacientes ficam de quarentena em
casa, e não no hospital?
A quarentena domiciliar está entre as medidas
recomendadas pela Organização Mundial da Saúde para pacientes que estão em bom
estado clínico, sem necessidade de internação.
No hospital, aumentam as chances de que mais
pessoas entrem em contato com o paciente, podendo propagar doenças entre outras
pessoas que estão em situações mais graves e com a imunidade baixa.
Há também o risco de que a pessoa infectada pelo
novo coronavírus seja atingida por outras doenças que circulam no hospital.
A quarentena em casa é também uma forma de tentar
evitar que os hospitais fiquem sobrecarregados.
As pessoas em quarentena domiciliar devem ter
cuidados redobrados com a higiene, como usar máscara quando tiverem contato
direto com outras, lavar as mãos com frequência, usar álcool em gel e não
compartilhar objetos de uso pessoal — como talheres, copos e toalhas.
19. O que vai acontecer com o surto no Brasil?
Haverá quarentenas para poucos ou para cidades
inteiras? Aulas serão canceladas? Ou a rotina segue relativamente normal, como
em mais de 40 países que já tiveram casos confirmados da doença?
Na prática, tudo depende da evolução dos casos no
país. Há dois grandes cenários possíveis na crise atual: um de contenção, outro
de mitigação.
No primeiro, o país passa a ter cada vez mais casos
pontuais ligados a pessoas oriundas de outros países, como tem acontecido nos
Estados Unidos e no Reino Unido. O Brasil, hoje, está nesse grupo. Neste cenário,
a rotina da população em geral praticamente não muda.
O segundo surgirá se o vírus estiver disseminado em
uma área mais ampla pelo contágio, o surto estiver instalado no país e a doença
passar a ser transmitida com rapidez e volume entre diversas pessoas, como na
Itália e na China.
Neste cenário, há, por exemplo, quarentenas de
cidades ou regiões, cancelamentos de aulas e eventos públicos e implementação
de trabalho remoto em empresas.
"Vai chegar um momento em que não vamos fazer
mais exames. Se você sabe que o vírus está circulando, isso passa a ser
desnecessário. O exame não ajuda em nada porque não há uma medida especial a
ser tomada. O que vai ser avaliado é apenas o grau de risco e de
comprometimento do paciente", explica Marcos Boulos, do Departamento de
Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (USP).
Segundo ele, em breve os hospitais ficarão lotados,
com filas de horas. "Estamos preocupados com os idosos, que evoluem
rapidamente para quadros mais graves. Por isso, vamos ter que criar uma
estrutura de saúde um pouco mais ágil, aumentar os leitos de UTI de modo geral
e centralizar o encaminhamento."
20. É verdade que esse vírus surgiu como uma arma
biológica criada na China? É verdade que já existia patente de laboratório
farmacêutico ligada ao novo coronavírus?
Primeiro, não há qualquer indício ou evidência de
que esse novo vírus foi criado em laboratório. Também há informações falsas
circulando sobre um instituto que teria feito uma patente de remédio para
tratar o coronavírus. Mas esse instituto faz pesquisa sobre outros tipos de
coronavírus, sem qualquer relação com o surto atual.
A droga, ainda em fase experimental e sem aprovação
pelas autoridades competentes, foi usada apenas em animais. E pode, inclusive,
ajudar os cientistas que hoje buscam desenvolver algum tipo de tratamento
contra a covid-19.
21. Então, qual foi a origem do surto?
A hipótese mais provável, segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS), é que a epidemia começou em um mercado da cidade
chinesa de Wuhan e foi transmitida de um animal vivo para um hospedeiro humano,
antes de se espalhar de humano para humano.
Nesse mercado eram vendidos tanto animais vivos
quanto já abatidos. Mas não se sabe ainda qual animal está ligado ao novo
coronavírus.
Mas também não há certeza se de fato o surto
começou no mercado chinês. Um estudo de pesquisadores chineses publicado no
periódico médico Lancet alega que o primeiro diagnóstico da covid-19 ocorreu
bem antes, em 1º de dezembro, e que o paciente em questão "não teve
contato" com esse mercado de Wuhan.
Desvendar essa origem é um "trabalho de
detetive", diz à BBC o professor Andrew Cunningham, da Zoological Society
of London, no Reino Unido.
Uma grande variedade de animais pode ter servido
como "hospedeiro" do vírus, especialmente o morcego, conhecido por
ser portador de um número considerável de coronavírus diferentes.
Segundo Fernando Spilki, presidente da Sociedade
Brasileira de Virologia, este é mais um vírus que chega à espécie humana por causa
de impacto ambiental.
Ao desmatar, degradar o ambiente e ampliar a
proximidade de animais silvestres para alimentação, recreação ou estimação, o
homem se aproxima de vírus com os quais não tinha contato nem imunidade. Se
expõe ao que ele chamou de uma nova virosfera.
22. Cachorros e gatos podem se infectar e
transmitir a doença?
Não há qualquer evidência científica de que cães e
gatos possam transmitir o novo coronavírus para humanos ou outros animais,
afirmou a secretária de Saúde de Hong Kong, Sophia Chan.
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionA maioria
dos casos de coronavírus foram registrados na China, mas outros países também
estão combatendo o vírus
O comunicado ocorreu depois da notícia de que o
cachorro de uma pessoa infectada com o vírus foi examinado e recebeu um
diagnóstico "positivo", mas "fraco".
O cachorro, da raça Lulu da Pomerânia, está em
quarentena sob observação e passará por novos exames. O animal não apresentou
sintomas.
23. Qual será o impacto na economia global?
Economistas e especialistas hesitam em falar em
números nesse estágio inicial do surto, mas alguns temem que a paralisação da
atividade econômica ao redor do mundo leve a uma crise do tamanho da ocorrida
em 2008.
Mas é possível identificar qual forma o impacto
terá e observar os danos econômicos causados por episódios similares no
passado, especialmente o caso da Sars entre 2002 e 2003, que também começou na
China.
Uma estimativa indica que o custo do surto de Sars
à época para a economia mundial foi de US$ 40 bilhões (R$ 167 bilhões em
números atuais).
No surto atual, já é possível perceber alguns dos
danos econômicos. Bolsas de valores têm despencado ao redor do mundo e dezenas
de empresas enfrentam desabastecimento na cadeira de fornecedores, como Apple e
Microsoft.
Há impactos graves também no setor turístico e de
companhias aéreas.
E do lado da exportação brasileira, o principal
impacto de curto prazo tem sido nos preços das principais commodities vendidas
pelo Brasil. As cotações da soja, do petróleo e do minério de ferro vêm
acumulando queda desde que os primeiros casos da doença foram confirmados,
diante do temor de uma desaceleração da economia chinesa.
As primeiras projeções apontam uma desaceleração da
economia chinesa — tanto o banco UBS quanto o Itaú, por exemplo, revisaram a
estimativa para o crescimento do país em 2020 de 6% para 5,4% e 5,8%,
respectivamente.
24. É arriscado importar produtos da China?
Em geral, os coronavírus sobrevivem pouco tempo no
ambiente. Questão de horas ou dias, no máximo.
Isso ocorre por causa do envelope, uma espécie de
camada de gordura que envolve o vírus e o torna vulnerável a um simples
detergente, por exemplo.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos
Estados Unidos afirmou que não há, até agora, nada que indique qualquer risco
associado à importação de produtos industrializados e ou de origem animal.
25. A Olimpíada de Tóquio será cancelada ou adiada?
A realização do evento em Tóquio, previsto para
acontecer de 24 de julho a 9 de agosto, passou a ser ameaçada em razão do
avanço do surto. Surgiram temores envolvendo até a passagem da tocha olímpica
por 859 lugares ao redor do mundo.
Para evitar a transmissão do vírus, diversos países
têm cancelado grandes eventos públicos, como shows e jogos de futebol, mas nada
se compara ao tamanho de uma Olimpíada.
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionOlimpíada
de Tóquio está marcada para acontecer de 24 de julho a 9 de agosto
Os organizadores negam a possibilidade de qualquer
mudança, adiamento ou cancelamento, mas essa hipótese tem ganhado mais destaque
entre autoridades, especialistas e atletas.
O Japão, que registrou 214 casos do novo
coronavírus até agora, decidiu fechar todas as escolas do país para evitar a
disseminação da doença.
Uma decisão final sobre a realização ou não do
evento deve ocorrer até maio.
26. Se eu ficar doente, por quanto tempo posso
ficar afastado do trabalho?
A BBC News Brasil ouviu advogados e professores de
direito trabalhista para esclarecer essas dúvidas: Gisela Freire, sócia da Área
de Trabalhista do Cescon Barrieu; a advogada e professora de direito
trabalhista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Daniela Muradas e o
também advogado e professor de direito trabalhista da Universidade Federal de
Pernambuco Carlo Cosentino.
Apenas uma parte da população poderá receber
benefícios caso adoeça, já que o país tem muitos trabalhadores na informalidade
e desempregados.
Para os trabalhadores informais que não contribuem
para o INSS, dizem especialistas, não está previsto na legislação um sistema de
apoio caso peguem a doença.
Leia mais detalhes sobre cada tipo de
contrato nesta
reportagem.
27. Qual é o risco de contrair a doença viajando de
avião?
O ar em um avião pode muito bem ser de melhor
qualidade do que em um escritório, por exemplo — e quase certamente é melhor do
que um trem ou um ônibus.
Embora possa haver mais pessoas por metro quadrado
em um avião cheio, o ar está sendo trocado de forma mais rápida — a cada 2, 3
minutos, comparado a uma taxa de 10 a 12 minutos em um prédio com
ar-condicionado.
Enquanto você está em um avião, o ar que você
respira está sendo limpo por um instrumento chamado filtro de ar particulado de
alta eficiência (Hepa, na silga em inglês). Este sistema é capaz de capturar
partículas menores do que aquelas que são capturadas pelos sistemas comuns de
ar condicionado, incluindo vírus.
28. E circular de transporte público?
Grande parte do risco potencial de infecção em
trens e ônibus depende de quanto esses transportes estão cheios, o que varia de
acordo com cada cidade, cada rota e horários.
São Paulo tem três das dez linhas de trem e metrô
mais lotadas do mundo, segundo pesquisa do Google Maps feita com a avaliação de
usuários da plataforma de outubro de 2018 a junho de 2019 durante o horário de
pico (6h às 10h).
Se você estiver viajando em um trem ou ônibus
relativamente vazio, os riscos mudam. Também são fatores importantes o grau de
ventilação dos veículos, a limpeza pela qual eles passam, e quanto tempo você passa
dentro deles.
Uma pesquisa de 2018 feita em Londres pela
especialista Lara Gosce, do Instituto de Saúde Global, mostrou que as pessoas
que usavam o metrô regularmente eram mais propensas a sofrer sintomas
semelhantes aos da gripe.
Mas David Nabarro, consultor especial de
coronavírus da Organização Mundial da Saúde, disse à BBC que, embora o
transporte público seja uma coisa importante a se observar, as evidências
sugerem que o tipo de "contato breve" que as pessoas têm quando
viajam juntas não parece, até agora, ser a "fonte mais importante de
transmissão".
29. Como um surto como esse acaba?
Diante do quadro de queda do número de novos casos
da doença, autoridades chinesas já estimam que as transmissões estarão
totalmente sob controle até abril. Por outro lado, temem que um eventual
"efeito bumerangue", depois que uma pessoa oriunda do Irã chegou
infectada ao país.
Especialistas também já esperavam que houvesse
picos da doença em outros países além da China, mas não era possível prever
quando isso ocorreria.
Ou seja, com base no que já ocorreu em epidemias
anteriores, dá para estimar o que pode acontecer na trajetória do vírus, mas
não quando ela vai acabar.
"Quando um vírus é introduzido em uma espécie,
ele costuma causar doenças mais graves no início, mas depois passa por um
processo de adaptação e se torna mais brando. Do ponto de vista evolucionário,
ele precisa transmitir seus genes adiante. Não adianta matar todos os
hospedeiros", diz Fernando Spilki, presidente da Sociedade Brasileira de
Virologia.
Vírus são organismos propensos a sofrer mutações, o
que permite que eles saltem de uma espécie para a outra, como teria ocorrido
com este coronavírus.
Mas essa característica também permite que eles se
tornem mais bem adaptados ao organismo humano e menos agressivos, aumentando as
chances de convivermos com eles.
Há três grandes formas de uma transmissão chegar ao
fim:
medidas adotadas por autoridades de saúde impedem
que haja contato entre pacientes infectados e pessoas saudáveis, evitando novos
contágios;
processo de imunização do hospedeiro, ou seja,
quanto maior a circulação do vírus, mais pessoas adquirem anticorpos contra ele
e ficam imunes, fazendo com que o vírus perca força, ou sejam vacinadas;
dizimar toda a população mundial, o que seria um
fracasso para o vírus, porque ele morreria junto.
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